Ano 0 d.p.f. (depois de parar de fumar)

texto vermelho "stop" em uma folha branca. a folha está em uma máquina de escrever.

A minha resposta pro meme “O que você diria pro seu eu de vinte anos atrás?” é NEM INVENTA. Porque a Lise de 20 anos inventou de achar que fumar era legal.

Spoiler: Não era, não é, e vai continuar não sendo. E nem é só por causa do mal que o cigarro faz.

Todo viciado tem a história de como começou o vício, e a minha é idiota: eu achava legal fumar. Eu sabia que fazia mal e eu sabia do mal que fazia, mas eu achava legal. E o meu primeiro namorado fumava, e jovem só faz merda. Como todo jovem, eu fiz merda e comecei a fumar também. Primeiro Marlboro vermelho intercalando com Black mentolado, isso de vez em quando. Eu acho que o Black tinha outro nome, mas divago. É cigarro de cravo, ou com sabor de cravo. Eu nunca realmente fui atrás pra saber o que tem naquela merda. Quando eu parei com o de cravo comecei a fumar cigarro “normal”, mas mentolado, porque era gostoso e melhor que o gosto ruim do Marlboro. E lá se foram vinte anos.

O problema de achar que o cigarro é legal é que essa merda vicia, mas vicia MUITO rápido. A nicotina chega MUITO rápido no cérebro, já que o maldito fumante tá inalando a fumaça pela boca, e tem uma vida MUITO curta no organismo. E os neurônios ADORAM nicotina. Catei a citação a seguir do blog do André, que escreveu um artigo muito bom sobre cigarro – eletrônico, mas serve pro analógico também.

A nicotina se liga bem no centro que integra as sensações de prazer do cérebro, o chamado “Centro da Busca”. Esse centro é responsável por induzir alterações comportamentais com a intenção de nos obrigar a repetir ações que anteriormente nos trouxeram prazer: sexo, comida, temperatura agradável para o corpo, etc.

E se fosse só a nicotina tava era bom. No meio do cigarro tem mais um monte de porcaria que também vai tudo pro pulmão, pro cérebro, pra corrente sanguínea, pro corpo todo…

Não, Lise de 20 anos, cigarro não é legal. Nem um pouco. Mas divago de novo.

Faz uns três ou quatro anos – pandemia, né? tava todo mundo meio abubublé das ideias, inclusive e principalmente eu – tentei parar de fumar pra valer tomando um remédio, receitado pela minha psiquiatra, que tem uma taxa de sucesso considerável na estratégia de redução ou interrupção do tabagismo, mas pra mim não fez efeito nenhum. Tomei o remédio por dois meses e nada. Desisti, larguei mão.

Daí nos últimos tempos eu comecei a prestar atenção no meu hábito de fumar. Isso, claro, varia muito de fumante pra fumante, mas eu comecei a notar que o meu consumo de cigarro estava muito ligado ao hábito, e a ansiedade de não estar fumando tinha mais a ver com o fato de eu não poder efetivamente fumar num determinado momento. Então rolava um negócio assim: eu tinha a rotina diária de consumo daquela porcaria, que eram momentos que se repetiam todos os dias em determinadas horas do dia (por exemplo, acordar, pegar um café e ir pra varanda pra acender um cigarro). Além desses momentos rotineiros eu pegava o maço e ia pra varanda a qualquer momento que 1) tivesse ainda cigarro no maço 2) tivesse ~vontade~ de fumar. E essa vontade às vezes nem era vontade, mesmo, era puro hábito. E não era só em casa, era em qualquer evento social, como ir na casa da sogra ou na casa da mãe, ir jogar RPG ou comer um churrasco na casa dos amigos, ou passear no shopping, ir à feira ou ao mercado… o kit de sair de casa sempre incluía o cigarro e o isqueiro, sempre. Até pra ir pra PISCINA eu levava o cigarro.

Não vou nem falar da quantidade de dinheiro literalmente torrada com esse vício imbecil.

Depois de ponderar sobre os hábitos, sobre o dinheiro gasto e de uma crise existencial nada legal, eu resolvi que ia tentar parar de fumar. Eu efetivamente consegui diminuir o consumo de um maço por dia pra meio maço por dia por alguns dias, mas num dia particularmente chato eu fumei um maço em um dia, em vez de meio. Fiquei puta da vida comigo mesma e segui fumando. Até que semana passada eu lembrei de uma pergunta que eu fiz pra uma amiga-irmã que parou de fumar há muito tempo:

— Como você fez pra parar?

— Foi a seco. Naquela época não tinha o tanto de recurso que tem hoje. Eu parei a seco.

Ela nem sabe (bom, agora vai saber rs), mas eu anotei o dia e a hora em que eu fumei meu último cigarro pensando nesse “eu parei a seco”, porque eu resolvi que não ia fumar mais e é isso aí. Avisei o Alan, e ele mais do que depressa, mesmo sem eu pedir, guardou os isqueiros e o cinzeiro. O que eu pedi pra ele foi não comprar cigarro mesmo que eu peça ou diga que não estou suportando a vontade de fumar.

Já são oito dias sem fumar. As primeiras horas foram TENSAS. Nos dois primeiros dias me deu uma fome desgraçada (que até foi bom porque eu tava resfriada, então não tava querendo comer muito). Passei a semana basicamente trabalhando fechada no quarto pra não ficar perto da varanda, que era meu canto de fumante. Alan está constantemente me dando Halls. No final de semana fomos no centro da cidade e não senti vontade de fumar na rua, mesmo tendo passado por gente fumando. E contei pra Deus e o mundo que eu estava sem fumar há x horas ou dias, dependendo de quando eu falei.

Mas a porra do hábito é o que me faz ainda ter uns impulsos do tipo “putz, eu podia ter um cigarro aqui, né?”.

O André tinha me falado sobre mudar hábito no dia que eu falei pra ele que tinha decidido parar de fumar e ele me mandou o link pro artigo que eu linkei ali em cima. E como todo bom amigo, ele fica me torrando o saco pra eu postar mais no blog, porque isso é uma forma de mudar os hábitos anteriores e porque blogs são legais, mas olha eu divagando mais uma vez. Nunca mude, tá, André, seu chato? =D

A coisa com o hábito é que ele se torna parte do que você é. No caso específico do meu hábito com o cigarro, é muito tempo pegando essa merda pra fazer intervalos, seja lá quais forem eles. Eu basicamente parei de fazer algo que eu passei literalmente metade da minha vida fazendo, e parei de uma hora pra outra, porque foi o jeito que eu botei na cabeça que daria certo. Do it or do not; there is no try, e no meu caso eu já tinha tentado algumas vezes, mas DECIDIR parar é um troço forte demais. E por isso que eu entendi que existem recaídas, e que elas são comuns. A abstinência de nicotina dá sintoma físico como enjoo, tontura e dor de cabeça (eu tive dor de cabeça esses dias), o hábito dá sintoma psicológico (cadê o cigarro pra relaxar na varanda?). Junta as duas coisas, e essa porra desse vício é um dos mais difíceis de se vencer.

Mas tia Lise é teimosa feito uma mula. Eu vou vencer essa porcaria desse vício.

Deixar de fumar era tão difícil porque, quando eu decidi parar de vez, eu inconscientemente me despedi do hábito de fumar lembrando da Lise que deitava no corredor de madrugada pra fumar olhando pras estrelas, da Lise que já esteve no chão de uma sala com um cigarro, uma garrafa de vinho e uma companhia (na época) agradável, da Lise que viu o Peter Hook autografar um maço de L.A. de cereja porque era a única superfície autografável à mão, da Lise que dividiu cigarros e conversas em alemão com o tecladista do De/Vision num after party maluco em Santo André, da Lise que ia pro intervalo da faculdade e ficava jogando conversa fora na frente do prédio da Letras… sem perceber, eu me despedi desse hábito lembrando de todas as vezes que ele estava lá enquanto eu tava construindo o que eu sou e me xingando ao mesmo tempo porque eu tive a brilhante ideia de deixar essa merda que faz mal pra caralho permear todos os dias da minha vida nos últimos 20 anos e fazer com que os últimos oito dias tenham sido mais difíceis do que deveriam ter sido se eu não tivesse começado a fumar.

Mas xingar a Lise de 20 anos não adianta nada porque já foi, já passou, e não vai ajudar em nada. Eu vou só continuar aqui, firme que nem prego na areia, interrompendo impulso de querer fumar chupando bala ou tomando café – POIS É, ando tomando café numa boa ainda –, ou amassando gato, ou caçando coisa pra escrever no blog. Inclusive pode deixar sugestão de assunto aí embaixo nos comentários se quiser. A casa agradece. =)

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Gilmar Garcia
Gilmar Garcia
1 mês atrás

Parabens meu anjo, continue assim, lutando contra o fumaçento, mas ao inves de amassar o gato, amarra ele, hehehe.

🙂

Marcelo
25 dias atrás

Aêêêêêêê garota. Parabéns pela iniciativa e que sua força de vontade nunca enfraqueça. A Lise daqui 20 anos vai agradecer DEMAIS a Lise de hoje por essa decisão.

Não esmoreça.

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