Minha página inicial do YouTube, depois que eu expurguei o histórico, varia entre vídeos de química, vídeos sobre o Notion, speedruns de jogos diversos, música, vídeos sobre bookbinding ou bullet journaling, entre outros que vazam por entre as brechas do algoritmo. Quando eu preciso espairecer e ainda não é hora de dormir eu vou no YouTube e fico lá ~zapeando~ por um tempo. E numa dessas a adolescente nerd que habita em mim resolveu ressuscitar e fazer um cálculo estequiométrico. Por quê? Ora, porque sim!
Uma coisa que me irrita, mas que parece estar virando moda, são os tais dos shorts. Eu já abominava os canais de cortes dos videocasts – não, aquele formato de bate-papo gravado não é e nunca vai ser podcast – porque 1) é uma forma de atrair mais visualizações e gerar engajamento, o que não significa que é bom por si só e 2) nunca havia só um canal de corte por videocast, o que fazia com que qualquer zé-mané fizesse o corte que bem entendesse e postasse. Mas isso sou eu, velha e ranzinza. Como esses canais vão continuar existindo querendo eu ou não, dei um jeito de eles sumirem da minha frente e vida que segue.
Aí apareceram os shorts. Eu continuo achando um formato besta – vídeos de um minuto que só servem pra atrair mais visualizações e gerar engajamento – mas pelo menos são os próprios youtubers que fazem. E daí eu cliquei num do NileRed, esse aqui:
A pequena química de 16 anos que habita em mim fez um cálculo estequiométrico de cabeça e concluiu que, sim, misturar cálcio e água realmente forma hidróxido de cálcio e hidrogênio, mas pera lá, e o balanceamento disso?
Espero que o André não apareça aqui em casa pra me bater, mas vamos lá. O cálcio, segundo a nossa querida tabela periódica, é um metal da família dos alcalino-terrosos, e seu número atômico é 20; pra quem não lembra, o número atômico diz pra gente quantos prótons existem dentro do núcleo de um elemento químico. Ele também tem 20 elétrons, o que faz com que ele fique com dois elétrons na camada de valência (2-8-8-2). O íon de cálcio é representado por Ca2+. Já a água é uma molécula composta por dois átomos de hidrogênio e um de oxigênio, formando, assim, nossa conhecida H2O. O hidrogênio só tem um elétron, ele necessariamente precisa se juntar com alguma outra coisa pra que sua camada de valência fique estável com dois elétrons. Quando se junta com outro átomo de hidrogênio, forma o gás hidrogênio, H2. O oxigênio é um não-metal cujo número atômico é 8, então ele precisa se juntar com alguma outra coisa pra camada de valência ficar estável (pois com oito elétrons a distribuição fica 2-6, o que faz dele um ânion que precisa de mais dois elétrons na camada de valência). Bem, o gás hidrogênio tem dois elétrons, então por meio de um método complicado é possível juntar os dois e formar H2O.
Quando o cálcio bate na água, uma molécula de hidrogênio (H2) escapa, mas o oxigênio fica preso em um átomo de hidrogênio, formando um grupinho OH chamado de hidroxila, e essa hidroxila também se prende ao cálcio, formando hidróxido de cálcio, Ca(OH)2. Vamos ao cálculo estequiométrico.
Ca + H2O –> Ca(OH)2 + H2
A seta ali indica uma transformação. Segundo Lavoisier, “na Natureza, nada se cria, nada se perde, tudo se transforma”. Na química você não usa um sinal de igual em um cálculo desses porque um lado não é igual ao outro; as coisas se transformam em outras. Mas divago. O que temos ali é uma equação desbalanceada, porque de um lado temos um átomo de cálcio, dois de hidrogênio e um de oxigênio, e do outro lado temos um átomo de cálcio, quatro de hidrogênio e dois de oxigênio. Se nada se perde, isso significa que uma molécula só de água não basta pra fazer o cálcio mandar uma molécula de gás hidrogênio pros ares, precisamos de duas.
Ca + 2H2O –> Ca(OH)2 + H2
Agora a equação está balanceada e o cálculo está correto. E o NileRed, de novo, me fez lembrar do motivo pelo qual as aulas de química no colégio eram as minhas favoritas. Essa coisa toda é muito, muito legal.
“Mas Lise, o que diabos é hidróxido de cálcio”? É cal, meu querido leitor, cal hidratada. Aquela mesma que se usa em construção.